segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Introdução ao modernismo

A segunda geração modernista brasileira



Para início de estudo a respeito da segunda geração modernista torna-se necessária fazer uma pequena apresentação sobre as diferenças entre o Parnasianismo, escola que precede esse movimento, e o modernismo matéria que está sendo estudada.


Então iremos passar isso de uma forma bastante simples e didática que torna essa tarefa bem mais fácil e simples de ser entendida.



Parnasianismo

•Universalismo (Exceto alguns poemas de Olavo Bilac)



•Objetivismo


•“Arte pela arte” ou “arte sobre a arte”


•Apego à tradição clássica


•Presença da mitologia greco-latina


•Discritivismo


•Versos regulares, gosto pelo decassílabo e pelo soneto


•Linguagem discursiva, retórica


•Emprego da variedade culta e formal da linguagem, de acordo com o padrão


•Pontuação rigorosa


Modernismo

•Nacionalismo



•Subjetivismo


•Valorização de temas ligados ao cotidiano


•Revisão critica de nosso passado histórico-cultural


•Urbanismo


•Ironia, humor, piada


•Versos livres, palavras em liberdade


•Síntese na linguagem, fragmentação, flashes-cinematográficos


•Busca de uma língua brasileira, mais popular e coloquial


•Pontuação relativa

Introdução ao modernismo



"Os camaradas não disseram que havia uma guerra


e era necessário


trazer fogo e alimento."


(Carlos Drummond de Andrade)


Recebendo como herança todas as conquistas da geração de 1922, a segunda fase do Modernismo brasileiro se estende de 1930 a 1945.


Período extremamente rico tanto em termos de produção poética quanto de prosa, reflete um conturbado momento histórico: no plano internacional, vive-se a depressão econômica, o avanço do nazifascismo e a II Guerra Mundial; no plano interno, Getúlio Vargas ascende ao poder e se consolida como ditador, no Estado Novo. Assim, a par das pesquisas estéticas, o universo temático se amplia, incorporando preocupações relativas ao destino dos homens e ao "estar-no-mundo".


Em 1945, ano do fim da guerra, das explosões atômicas, da criação da ONU e, no plano nacional, da derrubada de Getúlio Vargas, abre-se um novo período na história literária do Brasil.

Momento histórico da segunda geração modernista brasileira

Momento histórico da segunda geração modernista brasileira
 

O período que vai de 1930 a 1945 talvez tenha testemunhado as maiores transformações ocorridas neste século. A década de 1930 começa sob o forte impacto da crise iniciada com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, seguida pelo colapso do sistema financeiro internacional: é a Grande Depressão, caracterizada por paralisações de fábricas, rupturas nas relações comerciais, falências bancárias, altíssimo índice de desemprego, fome e miséria generalizadas. Assim, cada país procura solucionar internamente a crise, mediante a intervenção do Estado na organização econômica. Ao mesmo tempo, a depressão leva ao agravamento das questões sociais e ao avanço dos partidos socialistas e comunistas, provocando choques ideológicos, principalmente com as burguesias nacionais, que passam a defender um Estado autoritário, pautado por um nacionalismo conservador, por um militarismo crescente e por uma postura anticomunista e antiparlamentar - ou seja, um Estado fascista. É o que ocorre na Itália de Mussolini, na Alemanha de Hitler, na Espanha de Franco e no Portugal de Salazar.


O desenvolvimento do nazifascismo e de sua vocação expansionista, o crescente militarismo e armamentismo, somados às frustrações geradas pelas derrotas na I Guerra Mundial; este é, em linhas gerais, o quadro que levaria o mundo à II Guerra Mundial (1939-1945) e ao horror atômico de Hiroxima e Nagasáqui (agosto de 1945).


Do ponto de vista histórico e político, o ano de 1930 inaugura um novo período no Brasil. Com o desgaste da política do café-com-leite, que caracterizou a Primeira República, os conflitos gerados pelas insurreições militares (Tenentismo e Coluna Prestes), a crise política das oligarquias e a “quebra” da bolsa de valores de Nova York (1929), entre outros fatores, deflagra-se a Revolução de 30 e, com ela abre-se um espaço de mudanças.


O ano de 1930 marca o ponto máximo do processo revolucionário, ou seja, é o fim da República Velha, do domínio das velhas oligarquias ligadas ao café e o início do longo período em que Vargas permaneceu no poder.


A eleição de 1°- de março de 1930 para a sucessão de Washington Luís representava a disputa entre o candidato Getúlio Vargas, em nome da Aliança Liberal, que reunia Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, e o candidato oficial Júlio Prestes, paulista, que contava com o apoio das demais unidades da Federação. O resultado da eleição foi favorável a Júlio Prestes; entretanto, entre a eleição e a posse, que se daria em novembro, estoura a Revolução de 30, em 3 de outubro, ao mesmo tempo em que a economia cafeeira sente os primeiros efeitos da crise econômica mundial.


A Revolução de 30, que levou Getúlio Vargas a um governo provisório, contava com o apoio da burguesia industrial, dos setores médios e dos tenentes responsáveis pelas revoltas na década de 1920 (exceção feita a Luís Carlos Prestes, que, no exílio, havia optado claramente pelo comunismo). Desenvolve-se, assim, uma política de incentivo à industrialização e à entrada de capital norte-americano, em substituição ao capital inglês.


Uma tentativa contra-revolucionária partiu de São Paulo, em 1932, como resultado da frustração dos paulistas com a Revolução de 30: a oligarquia cafeeira sentia-se prejudicada pela política econômica de Vargas; as classes médias e a burguesia temiam as agitações sociais; e, para coroar o descontentamento, Vargas havia nomeado um interventor pernambucano para São Paulo. A chamada Revolução Constitucionalista explodiu em 9 de julho, mas não logrou êxito. Se Guilherme de Almeida foi o poeta da Revolução paulista, tendo produzido vários textos ufanistas, Oswald de Andrade foi seu romancista crítico, como atesta seu livro Marco zero - a revolução melancólica.


Ainda em 32, a ideologia fascista encontra ressonância no nacionalismo exacerbado do Grupo Verde-Amarelo, liderado por Plínio Salgado, fundador da Ação Integralista Brasileira. Ao mesmo tempo crescem no Brasil as forças de esquerda. Em 1934, elas formam uma frente única: a ANL - Aliança Nacional Libertadora. Tornam-se freqüentes os choques entre a extrema-direita e os membros da ANL, até que o governo federal manda fechá-la, por "atividade subversiva de ordem política e social", em julho de 1935. Entretanto, na clandestinidade, a ANL tenta uma revolução, em novembro desse mesmo ano, "contra o imperialismo e o fascismo" e "por um governo popular nacional revolucionário". Os revoltosos previam uma rebelião militar imediatamente acompanhada por revoltas populares, mas o movimento não foi além de três unidades militares, logo derrotadas; milhares de pessoas foram aprisionadas, e o governo obteve um pretexto para endurecer o regime.


Getúlio Vargas, auxiliado pelos integralistas, inicia sua ditadura em 10 de novembro de 1937. O chamado Estado Novo será um longo período antidemocrático, anticomunista, baseado num nacionalismo conservador e na idolatria de um chefe único: Getúlio Vargas. Essa situação se prolongará até 29 de outubro de 1945, quando, pressionado, Getúlio renuncia.


Diante desses significativos acontecimentos, Carlos Drummond de Andrade publica, em 1945, um poema intitulado "Nosso tempo", que revela o estado de ânimo da parcela mais consciente da sociedade:


"Este é tempo de partido,


tempo de homens partidos.


Em vão percorremos volumes,


viajamos e nos colorimos.


A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.


Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.


As leis não bastam. Os lírios não nascem


da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se


na pedra.


(...)"


Com a era Vargas a tendência à industrialização se acentua, remodelando nossa estrutura econômica agroexportadora. A modernização dos engenhos açucareiros do Nordeste faz parte desse quadro geral de mudanças e constitui um dos grandes temas da prosa neo-realista da época.


Em termos culturais amplos, trata-se de um momento de busca de novos caminhos: filosóficos, sociais, políticos, existenciais. Na literatura, a segunda geração do Modernismo é a expressão desse momento.

Características da segunda geração modernista brasileira

Iniciada em 1930, com a publicação de Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, e encerrada em 194, com a morte de Mário de Andrade, a segunda geração modernista incorpora as conquistas de 22. O verso livre, a liberdade temática, a introdução do prosaico, do coloquial e do irônico no contexto poético, o antiacademicismo e o engajamento do escritor nas questões de seu tempo caracterizam tanto obras de Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira, principais representantes da primeira geração modernista, quanto obras dos poetas de 10, como Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes.


Os escritores da geração de 30, fazendo uma ponte com os da geração de 22, inserem as reivindicações e conquistas destes no panorama literário geral, agora mais amadurecido em termos de assimilação do Modernismo.


Simultaneamente revalorizam e conciliam elementos da tradição com os novos tempos.


Quanto à prosa, surge, o Neo-Realismo nordestino de Graciliano Ramos, Rachel de Queirós, Jorge Amado, José Lins do Rego e José Américo de Almeida, que dá nova dimensão tanto ao estilo realista quanto ao romance regionalista brasileiro.


Outro traço da geração de 30, na poesia e na prosa, é a mudança de enfoque quanto à temática nacionalista de 22. A consciência da nacionalidade, que predominou na década de 1920, a partir de 1930 tende a ampliar-se e a tornar-se consciência social mais ampla, que situa as questões regionais e locais num contexto universalista.


Surge a consciência de que a problemática do mundo em que vivemos é de natureza política. Portanto, está diretamente ligada ao sistema capitalista, com suas desigualdades, suas contradições, seus mecanismos de opressão e de desumanização, que a poesia e a arte precisam denunciar.



 

Síntese das principais características da segunda geração modernista brasileira

(1930 – 1945)





 Prolonga e aprofunda as propostas e realizações de 1922.


 Concilia elementos da tradição e elementos de modernidade.


 Concilia nacionalismo e universalismo.


 Poesia: poetas de cosmovisão.


 Prosa: Neo-Realismo.


Engajamento dos escritores nas questões sociopolíticas de seu tempo.


Prosa



A prosa, por sua vez, alargava a sua área de interesse ao incluir preocupações novas de ordem política, social, econômica, humana e espiritual. A piada foi sucedida pela gravidade de espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios. Essa geração foi grave, assumindo uma postura séria em relação ao mundo, por cujas dores, considerava-se responsável. Também caracterizou o romance dessa época, o encontro do autor com seu povo, havendo uma busca do homem brasileiro em diversas regiões, tornando o regionalismo importante. A Bagaceira, de José Américo de Almeida, foi o primeiro romance nordestino.


Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, Érico Verissimo, Graciliano Ramos e outros escritores criaram um estilo novo, completamente moderno, totalmente liberto da linguagem tradicional, nos quais puderam incorporar a real linguagem regional, as gírias locais.


A adesão ao socialismo impôs aos escritores da época, às vezes de forma radical, fórmulas de compreensão do homem em sociedade. Os romancistas, imbuídos do sentimento de missão política, queriam mostrar as tensões que transformavam ou destruíam os homens - aliás, um tema universal e sempre vivo na literatura.


Mas o fato é que sem os modernistas de 1922 (1ª geração), dificilmente os modernistas de 1930 (2ª geração) teriam conseguido o feito literário e social que obtiveram, porque aqueles foram os primeiros que provocaram a atualização da "inteligência" brasileira, foram eles que trouxeram para a literatura o fato não-literário e a oralidade, que tanto beneficiou o realismo seco dos escritores regionalistas, dando-lhes maior autenticidade.

Por outro lado, mesmo com os romances mais pitorescos e menos brutais, os leitores aprenderam, como nos ensina Alfredo Bosi (História concisa da literatura brasileira), que o velho mundo dos homens poderosos não acaba tão facilmente: as estruturas das oligarquias regionais se mantêm através do poder e da força, e é contra eles que se tem de lutar. Como nos conta Jorge Amado, ao final de Capitães da areia:


No ano em que todas as bocas foram impedidas de falar, no ano que foi todo ele uma noite de terror, esses jornais (únicas bocas que ainda falavam) clamavam pela liberdade de Pedro Bala, líder da sua classe, que se encontrava preso numa colônia.
(...] E no dia em que ele fugiu..., em inúmeros lares, na hora pobre do jantar, rostos se iluminaram ao saber da notícia. [...] Qualquer daqueles lares se abriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é uma pátria e uma família.




A consciência crítica

 
Mais do que tudo, os escritores da segunda geração consolidaram em suas obras questões sociais bastante graves: a desigualdade social, a vida cruel dos retirantes, os resquícios de escravidão, o coronelismo, apoiado na posse das terras - todos problemas sociopolíticos que se sobreporiam ao lado pitoresco das várias regiões retratadas.








A prosa neo-realista no Brasil



A segunda geração do Modernismo brasileiro correspondeu a um estado adulto e amadurecido de nossa literatura moderna.



Com relação à prosa, uma multiplicidade de tendências ganha espaço. Na maioria dos cacos, trata-se de escritores que aproveitam a tradição de análise psicológica e social herdada do século XIX, alguns apresentando agudo enfoque metafísico e não menos agudo senso dramático dos problemas humanos.


A prosa cosmopolita de José Geraldo Vieira, a prosa de introspecção e de análise psicológica de Cornélio Pena, Otávio de Faria, Ciro dos Anjos, Lúcio Cardoso e Dionélio Machado, a prosa essencialmente modernista de João Alphonsus e Aníbal Machado, a prosa surrealista de Jorge de Lima e a prosa que recria o cotidiano, de Erico Veríssimo, constituem alguns dos exemplos mais significativos da variedade de vertentes de nossa produção romanesca, registrada a partir da década de 1930.


Nesse panorama tão diversificado, destaca-se a prosa regionalista do Nordeste, conhecida como prosa neo-realista. Essa foi a tendência que alcançou maior repercussão e importância na época, por ter assumido uma visão critica das relações sociais, focalizando os problemas da seca, do coronelismo e da decadência do modelo oligárquico patriarcal, com a extinção dos antigos engenhos açucareiros.


Fortemente influenciada pelas idéias de Gilberto Freyre, autor do Manifesto regionalista (1926) e de Casa Grande & Senzala (1933) e grande mentor do grupo regionalista do Recife, que se formou em 1928, essa geração redescobre o Brasil e contribui para sua universalização, vendo o regional de uma perspectiva política, predominantemente marxista, e assim fundando o Neo-Realismo.


Denominamos Neo-Realismo o tipo de Realismo em que o caráter cientificista e determinista do Naturalismo do século XIX é substituído por um enfoque político, de problemas regionais como a condição e os costumes do trabalho rural, a seca, a miséria etc.


Tais Problemas, vistos nas perspectiva da luta de classes, da opressão do homem pelo homem que caracteriza a sociedade capitalista, ganham conotação universal e intemporal, saindo do pitoresco e do localismo tradicionais em nossa produção regionalista.

Principais escritores do Neo-Realismo Brasileiro

Encontramos bons exemplos de produção neo-realista brasileira nas obras de José Américo de Almeida, autor de A bagaceira (1928), Rachel de Queirós, autora de O Quinze(1930), e Jorge Amado, autor de O país do Carnaval (1931), Cacau (1933), Suor (1934), Jubiabá (1935), Capitães de areia (1937) e Os subterrâneos da liberdade (1946), entre outras.



Os principais representantes do período, porem, são José Lins, do Rego e Graciliano Ramos, aos quais vamos dedicar nossa atenção.


Erico Veríssimo

(1905 – 1975)





A obra de Erico Veríssimo rastreia o ambiente citadino do Rio Grande do Sul, do qual elabora um panorama histórico e poético, com uma prosa límpida, tendendo ao impressionismo. Entre outras obras, escreveu: Clarissa (1933), Caminhos cruzados (1935), Musica ao longe (1935), Olhai os lírios do campo (1938), O resto é silencio (1943) – atingindo a maturidade expressiva com a trilogia. O tempo e o vento (1949 – 1962). O senhor embaixador (1965), O prisioneiro (1967) e Incidente em Antares (1971), obra na qual revela as dimensões de seu engajamento ideológico, constituem as produções mais recentes do escrito.






Jorge Amado

(1912 – 2001)



 


 Jorge Amado apresenta duas fases distintas em sua travessia literária: à primeira, de claro engajamento social e político, pertencem as obras mencionadas, entre outras. Já suas produções mais recentes como Gabriela, cravo e canela (1958), Dona Flor e seus dois maridos (1966), A tenda dos milagres (1969), Teresa Batista cansada de guerra (1975) e Tieta do Agreste (1977), “assemelham-se a crônicas amaneiradas de costumes provincianos”.






José Lins Rego

(1901 – 1957)



 
 Autor expressivo da prosa literária, José Lindo do Rego nasceu no engenho Corredor, município de Pilar, região canavieira da Paraíba. Sua infância e juventude estão parcialmente registradas nos primeiros romances que escreveu, de caráter memorialista: Menino de engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), O moleque Ricardo (1936), entre outros. Fogo morto (1943) é sua obra-prima, a síntese da obra literária que produziu. Morreu no Rio de Janeiro, aos 56 anos. Filho da aristocracia dos senhores de engenho do Nordeste, assistiu à decadência de sua classe e à ascensão dos usineiros. Intelectualmente, ligou-se ao grupo regionalista do Recife, sofrendo forte influência de Gilberto Freyre.






José Lins do Rego e o ciclo da cana-de-açúcar



José Lins do Rego criou, em seus romances, o testemunho da decadência dos antigos engenhos açucareiros do Nordeste – convertidos em usinas num processo de modernização reconhecidamente conservador, pois manteve praticamente intatas as estruturas sociais e políticas. Essa é a marca mais forte de sua produção literária, que partiu do memorialismo e, de romance a romance, foi ganhando em consistência e densidade. Assim, ao longo de uma trajetória singular, o escritor converteu-se num dos grandes mestres da transposição estética da cultura popular de sua terra. O lirismo e a naturalidade da linguagem constituem traços bastante significativos dessa obra que realiza a difícil síntese de conjugar denuncia social e qualidade literária.


Estão presentes no fragmentos de cada uma das três partes em que se divide o enredo de Fogo morto – romance que utiliza uma pluralidade de perspectivas para tematizar a decadência dos engenhos açucareiros do Nordeste, os problemas do latifúndio, do coronelismo, da seca, do cangaço e de violências policiais e políticas.


Graciliano Ramos

(1892 – 1953)



 
Considerando o maior representante da geração neo-realista nordestina, Graciliano Ramos nasceu em Quebrangulo, Alagoas. Foi o primogênito de um casal sertanejo de classe média que teve quinze filhos. Autodidata em literatura, elegeu-se prefeito da cidade de Palmeiras dos Índios, renunciando ao cargo em 1930 por motivos políticos.


Nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas em 1933, três anos depois foi demitido e preso, acusado de subversão comunista. O relato de sua experiência na prisão encontra-se em Memórias do cárcere, publicadas em 1953.


Em 1945, já considerado nosso maior romancista, depois de Machado de Assis, entrou no Partido Comunista de Brasileiro. Em 1951, elegeu-se presidente da Associação Brasileira de Escritores e, no ano seguinte, visitou a Rússia e os países socialistas, experiência que relatou na obra Viagem. Faleceu no Rio de Janeiro.


Graciliano Ramos é uma unanimidade em nosso país e também fora dele, quanto à mestria de sua obra, múltipla e impar, nos caminhos que trilhou.


Denunciou a desumanização do homem, seja instituindo a humanidade dos deserdados da seca nordestina, seja recriando a desumanidade dos “vencedores”, cuja alma se perde em nome da aquisição da propriedade.


Outro aspecto no qual se debruçou de maneira irrepetível é a discussão do papel do escritor num mundo degradado e sem sentido, onde impera a violência e a brutalização.


Vidas secas de Graciliano Ramos, estruturado em capítulos que parecem “peças autônomas”, isto é, que se encaixam de forma descontinua, o romance se debruça na trajetória de uma família obrigada periodicamente a fugir da seca nordestina e por isso tornar-se nômade, sem teto que não seja transitório, nem perspectiva de trabalho que não seja ocasional.


Assim, as péssimas condições climáticas e a opressão social fazem com que as personagens de Vidas Secas – Fabiano, sinhá Vitória, os filhos e Baleia, a cachorrinha que age, pensa e sente como gente – sejam silenciosas e hostis, comportem-se como seres incomunicáveis, não apenas em relação as pessoas da cidade, mas também em relação a si próprias. Entretanto, o narrador, relativizando a sua condição de bichos, de brutos, desvenda-lhes a humanidade submersa, reinventa o mundo interior de cada uma delas.

Principais obras da segunda geração modernista brasileira

Vidas Secas – Graciliano Ramos


Personagens


Baleia - cadela da família, tratado como gente, muito querido pelas crianças.


Sinhá Vitória - mulher de Fabiano, sofrida, mãe de 2 filhos, lutadora e inconformada com a miséria em que vivem, trabalha muito na vida.


Fabiano - nordestino pobre, ignorante que desesperadamente procura trabalho, bebe muito e perde dinheiro no jogo.


Filhos - crianças pobres sofridas e que não tem noção da própria miséria que vivem.


Patrão - contratou Fabiano para trabalhar em sua fazenda, era desonesto e explorava os empregados.


Outros personagens: o soldado, seu Inácio (dono do bar).



Resumo da obra


O romance “Vidas Secas” narra o episódio de uma família de retirantes em busca de um lugar que lhes ofereça meios de melhorar suas condições de vida. Essa família é composta por Fabiano, homem humilde e trabalhador; Sinhá Vitória, esposa resignada e fiel; o Menino mais novo e o Menino mais velho, crianças inocentes, representantes do anonimato social ; além da cachorra Baleia, animal que se humaniza em relação à dura realidade por que passa Fabiano e sua família. Durante um longo percurso por um caminho que parece interminável, os personagens enfrentam atrocidades várias, entre as quais, a fome, a sede e a falta de um lugar onde pudessem se estabelecer. Depois de andarem muito, os retirantes encontram uma casa que parecia abandonada. Eles se aproximam e entram nela, mas logo chega o dono, para quem Fabiano, depois de oferecer seus préstimos, começa a trabalhar, sendo vítima da seca, sua maior antagonista, e da exploração por parte do proprietário das terras. Na fazenda, a família permanece por algum tempo, cuidando do rebanho do proprietário até que, desiludidos com o aparecimento das arribações que, para eles “eram coisas da seca”, deixam a fazenda numa manhã bem cedo e continuam sua busca estrada a fora, na tentativa de um dia encontrarem um alento para suas vidas.






A Bagaceira – José Américo de Almeida




O romance se passa entre 1898 e 1915, os dois períodos de seca. Tangidos pelo sol implacável, Valentim Pereira, sua filha Soledade e o afilhado Pirunga abandonam a fazenda do Bondó, na zona do sertão. Encaminham-se para as regiões dos engenhos, no rejo, onde encontram acolhida no engenho Marzagão, de propriedade de Dagoberto Marçau, cuja mulher falecera por ocasião do nascimento do único filho, Lúcio. Passando as férias no engenho, Lúcio conhece Soledade, e por ela se apaixona. O estudante retorna à academia e quando de novo volta, em férias, à companhia do pai, toma conhecimento de que Valentim Pereira se encontra preso por ter assassinado o feitor Manuel Broca, suposto sedutor e amante de Soledade. Lúcio, já advogado, resolve defender Velentim e informa o pai do seu propósito : casar-se com Soledade. Dagoberto não aceita a decisão do filho. Tudo é esclarecido : Soledade é prima de Lúcio, e Dagoberto foi quem realmente a seduziu. Pirunga, tomando conhecimento dos fatos, comunica ao padrinho (Valentim) e este lhe pede, sob juramento, velar pelo senhor do engenho (Dagoberto), até que ele possa executar o seu "dever": matar o verdadeiro sedutor de sua filha. Em seguida, Soledade e Dagoberto, acompanhados por Pirunga, deixam o engenho e se dirigem para a fazenda do Bondó. Cavalgando pelos tabuleiros da fazenda, Pirunga provoca a morte do senhor do engenho Marzagão, herdado por Lúcio, com a morte do pai. Em 1915, por outro período de seca, Soledade, já com a beleza destruída pelo tempo, vai ao encontro de Lúcio, para lhe entregar o filho, fruto de seu amor com Dagoberto.


Capitães da Areia – Jorge Amado




Capitães da areia é um romance de autoria do escritor brasileiro Jorge Amado, publicado em 1937. O livro retrata a vida de menores abandonados, os "capitães da areia", nome pelo qual eram conhecidos os "meninos de rua" na cidade de Salvador dos anos 30.

Enredo


Retrata os meninos como moleques atrevidos, malandros, espertos, famintos, ladrões, agressivos, falsos, soltos de língua, carentes de afetos, de instrução, de comida. O livro é dividido em três partes. Antes delas, no entanto, vem uma seqüência de pseudo-reportagens, que caracterizam-nos e mostram diversas visões sobre o caso.

Primeira Parte: Sob a lua, num velho trapiche abandonado

Subdividida em 10 capítulos, a primeira parte apresenta o local em que as ações transcorrerão. Um trapiche(ou armazém abandonado), à beira-mar, que no passado fora um local movimentado e agora está sujo e infestado de ratos. Fora frequentado inicialmente pela marginália, até ser tomado pelo bando dos capitães da areia. "Sob a Lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem. Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche as ondas ora se rebentavam fragosas, ora vinham se bater mansamente. A água passava por baixo da ponte sob a qual muitas crianças repousam agora, iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta ponte saíram inumeros veleiros carregados, alguns eram enormes e pintados de estranhas cores, para a aventura das travessias maritimas. Aqui vinham encher os porões e atracavam nesta ponte de tábuas, hoje comidas. Antigamente diante do trapiche se estendia o mistério do mar-oceano, as noites diante dele eram um verde-escuro, quase negras, daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite. Ao Contrario de outros grupos espalhados pela cidade, os Capitães da Areia têm um lider, seguem normas e, principalmente, obedecem a um chefe que cumpre o papel de "manter um lar" para as crianças que ali vivem. Pedro Bala, quase naturalmente surge como um lider e tem o papel de harmonizar, manter a ordem e, de certa maneira, ensiná-los a agir sob certas circunstancias. Com Quinze anos, audaz, ativo e conhecedor de todos os recantos da cidade, é marcado por uma cicatriz e por seus cabelos loiros.Poucos lhe conheceram a mãe, e o pai "morrera num balaço". Para firmar a liderança, Pedro Bala destituiu o caboclo Raimundo, pós uma luta pelo "poder". O ápice da primeira parte vem em dois momentos: quando os meninos se envolvem com um carrossel mambembe que chegou na cidade, e experimentam as sensações infantis; e quando a varíola ataca a cidade e acaba matando um deles, apesar da tentativa do padre José Pedro em ajudá-los, e tendo grandes embaraços por causa disso.

Segunda parte: Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos

Relata a história de amor que surge quando Dora torna-se a primeira "Capitã da Areia". Apesar de inicialmente os garotos tentarem estuprá-la, Dora vira uma espécie de mãe para eles. Mas isto acontecera apenas uma vez! Podemos até mesmo afirmar que por breves momentos, Dora era a única pessoa sobre a qual o líder dos capitães de areia, Pedro Bala estaria disposto a pensar num futuro mesmo que próximo, e desta forma ultrapassar o sentimento de "Carpe Diem". Bem como era uma espécie de "estrela", que por sua guiou e fez sonhar Pedro Bala com simplesmente o seu amor.

Terceira parte: Canção da Bahia, Canção da Liberdade

Mostra a desintegração dos líderes. Sem-Pernas se mata antes de ser capturado pela polícia que odeia; Professor parte para o Rio de Janeiro onde torna-se um pintor de sucesso, entristecido com a morte de Dora; Gato se torna um malandro de verdade, abandonando eventualmente sua amante Dalva, e passando por Ilhéus; Pirulito se torna frade; Padre José Pedro finalmente consegue uma paróquia no interior, e vai para lá ajudar os desgarrados do rebanho do Sertão; Volta Seca se torna um cangaceiro do grupo de Lampião e mata mais de 60 soldados antes de ser capturado e condenado; João Grande torna-se marinheiro; Querido-de-Deus continua sua vida de capoeirista e malandro; Pedro Bala, cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, vai se envolvendo com os doqueiros e finalmente os Capitães de Areia ajudam numa greve. Pedro Bala abandona a liderança do grupo, mas antes os transforma numa espécie de grupo de choque. Assim Pedro Bala deixa de ser o líder dos Capitães de Areia e se torna um líder revolucionário comunista.